Sistemas de coleta seletiva com participação dos catadores – manual para organização e negociação dos serviços

Período: O manual foi publicado em Janeiro de 2011 em Belo Horizonte.

Resumo

O projeto foi resultado de um grupo de trabalho do Fórum Estadual Lixo e Cidadania de Minas Gerais (FELC) com o objetivo de elaborar um modelo de coleta seletiva solidária com a inclusão e participação remunerada dos catadores. O modelo serve como base para negociações entre o poder municipal e as Associações de Catadores (ACs), visando a implantação de sistemas de coleta seletiva eficientes e sustentáveis.O trabalho aborda a complexidade da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e os desafios impostos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e pela concorrência de tecnologias como a incineração. Foi elaborado um manual, que propõe a inserção formal e remunerada dos catadores no sistema de coleta como forma de aumentar a eficiência da triagem, ampliar a comercialização, e promover a segurança ambiental.

Objetivos

Objetivo geral

Elaborar um modelo de coleta seletiva solidária que sirva de base para negociações entre o poder municipal e as associações de catadores, contribuindo para a implantação de sistemas eficientes e sustentáveis.

Objetivos específicos / estratégicos

  • Formalizar as bases gerais de um modelo de coleta seletiva solidária.
  • Sugerir orientações estratégicas para o desenvolvimento e a consolidação das experiências de coleta seletiva com a participação dos catadores.
  • Ampliar a atuação e arrecadação dos catadores por meio de remuneração direta e ganhos indiretos (melhoria da qualidade do material, aumento da escala de comercialização e economia ambiental).
  • Promover a autonomia de gestão das ACs nos planos organizacional, técnico, de gestão e financeiro.

Resultados Produzidos

O manual estrutura as proposições em três grandes conjuntos de fatores que influenciam o sucesso da coleta seletiva solidária:

1. Fatores Institucionais

  • Legislação (Leis e Decretos): Devem especificar claramente as formas de apoio e remuneração, e os catadores devem participar da elaboração dessas normas.
  • Relações Contratuais: Os contratos devem ser flexíveis, ter vigência mínima que compense o investimento inicial da AC, e prever reajustes de preços e garantias contra encerramento prematuro do serviço.
  • Relações com o Poder Público Local: A gestão da coleta deve ser gradativamente apropriada pelos catadores (princípio da análise ascendente), e as decisões estratégicas devem ser tomadas em conjunto.
  • Relações com a Cadeia de Reciclagem: O poder público deve reconhecer e remunerar o trabalho de mobilização da comunidade realizado pelos catadores como um serviço ambiental e social.

2. Fatores Organizacionais

  • Mobilização (Porta a Porta): Deve ser feita pelos catadores, pois é mais eficaz, cria vínculos sociais e melhora a qualidade do material, devendo ser formalmente remunerada.
  • Competências: As ACs precisam desenvolver competências logísticas, jurídico-contábeis, de planejamento e controle, através de metodologias participativas e apoio técnico formal.
  • Relações com Catadores Não Organizados: Devem ser mobilizados para se associarem ou serem inseridos por arranjos operacionais (como vendas coletivas) para oferecer alternativa aos atravessadores.

3. Fatores Operacionais

  • Sistemas de Remuneração: A remuneração deve ser baseada no custo real das atividades (coleta e triagem). Deve incluir o pagamento pelo material triado, ressarcimento dos custos com rejeitos, e a transferência das economias ambientais (redução do custo de aterramento e aumento da vida útil do aterro).
  • Custos: Os custos da coleta seletiva são maiores que a coleta convencional (4 a 5 vezes) devido ao material reciclável ter maior volume e menor massa e não poder ser compactado. É crucial separar o custo real da coleta seletiva de outros serviços de limpeza urbana.
  • Logística: Sistemas multimodais (carrinhos + caminhão) são aconselháveis para reduzir custos. A roteirização e a abrangência devem ser planejadas considerando as características geográficas e socioeconômicas da cidade.
  • Qualidade do Material e Serviço: Dependem da mobilização porta a porta feita pelos catadores , do uso de caminhões não compactadores , e de um controle interno da AC sobre a pontualidade e a frequência do serviço.

Estratégia Progressiva de Inserção (Caminho para a Autonomia)

A inserção deve ocorrer em etapas progressivas:

  1. Primeiro momento: Participação como coletores (aquisição de know-how), recebendo também pela mobilização da população.
  2. Segundo momento: Coletar em um ou poucos setores do município, desde que seja economicamente viável (receita > custos).
  3. Terceiro momento: Aumentar gradualmente a abrangência até universalizar o serviço, permitindo que as ACs se apropriem do conhecimento e dos recursos de forma sustentável.

Publicações

O manual é uma publicação do Fórum Estadual Lixo e Cidadania – MG (FELC).

Envolvidos

Organizadores

  • Francisco de Paula Antunes Lima.
  • Jose Aparecido Gonçalves.
  • Janice Pereira de Araújo Carvalho.

Equipe Técnica

  • Coordenação: Francisco de Paula Antunes Lima.
  • Membros: Cinthia Versiani Scott Varella, Fabiana Goulart de Oliveira, e Gabriela Fonseca Parreira.
  • Instituição: Núcleo Alternativas, Departamento de Engenharia de Produção, Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Entidades de Apoio

  • Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA).
  • Fórum Estadual Lixo e Cidadania (FELC) – Minas Gerais.

Composição do Fórum Estadual Lixo e Cidadania (FELC)

O FELC é composto por 18 membros, incluindo o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), universidades (UEMG, UFMG/DESA), órgãos do Ministério Público, entidades de governo (SEMAD, FEAM, SRTE/MG), e outros parceiros como o Banco do Brasil e o CREA/MG.

Projetos e Instituições parceiras